quinta-feira, 28 de março de 2013

De quê adianta o meu fingir?

Se nunca saberás o que penso!
Meu ser tu calas, mas não muda. 

Nossas relações são baseadas em ações combinadas
Preferiu em “sã consciência” viver de mentiras
É patético quando conversas com uma marionete

Verás sempre um personagem
Com coração e cérebro arrancados
Alguém que joga o tempo inteiro
Nem inteiro, nem metade, nem vazio... Só ausência.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Eu quero um poema rude

Um morfema
Com todos os acentos, tremas e tépidas
Eu quero um poema arrancado de ti
Com nacos de couro e pedaços de medo

Eu quero um poema rude
Um poema que te impeça de dormir
E se pareça com um jarro de vômito embalando tua ressaca

Eu quero um poema de punhal na carne
Que te penetre com força
No ventre
Machado
No teu cerne
E um berne na tua face, bem no meio da tua face

Eu quero um poema rude
Um poema que tu digas excessivamente que é áspero
Para que te responda simplesmente:
“Escuta o tingir de ferros, tuas algemas.”

(Manuel Cavalheiro)


É com prazer que resgato este poema entre folhas velhas do diário de Manuel Cavalheiro, quase em estado de decomposição. Eu não tenho autorização para posta-lo aqui, mas não deixaria estas palavras  cruas em forma de arte serem enterradas com o tempo.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

“[...] O curioso era a lua, a única coisa bonita no meio do caos, brilhava muito e iluminava todo o canto, todo beco, toda destruição. Foi quando percebi que ela estava procurando desesperadamente por alguém, alguém que assim como ela desperta sentimentos fortes em quem a observa, ilumina todo o caminho por onde passa, inspira a mente mais vazia e é tão única, tão bela e tão grandiosa que nenhum filósofo, cientista ou astrônomo conseguiu decifrar como ou porque essa coisa tão enigmática foi parar logo aqui, perto da terra, planetinha insignificante. Bom, a lua pode se acalmar que já encontrei sua filha perdida. Eu te amo Sauara Blotta."

(Cícero Cavalheiro)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O dia em que resolvi dormir no pátio de casa

 "Você ainda lembra daquele certo dia de sua infância que revoltou-se com tudo? Deu a volta na quadra com uma mochila nas costas e dentro dela havia um pão e uma camiseta. Depois arrependeu-se e voltou chorando para casa. É como resolver dormir no pátio. Algo simples. Talvez coisa de criança. Que seja de criança então. Crianças são simples, puras e vêem a vida de outra maneira, como eu. Que eu seja uma eterna criança. Uma criança que já tem espinhas e nunca teve vergonha na cara."

O Céu estrelado
A lua cheia
O ar da noite agradável aos pulmões
Ele entrava e ia embora com os suspiros

Eu no meu quarto
Entre quatro paredes
E um teto sobre mim
Senti vontade de que todos os tijolos com cimento que me cercavam desaparecessem

Queria me conectar com algo maior
Com o universo, o infinito
Queria me conectar comigo
Porque casa é só algo que nos cobre, nos priva, nos cerca

Decidi então pegar meu colchão e deitar no pátio
Tinha certeza que lá me sentiria melhor, mais livre
O caderno preenchido com poemas e a garrafa de vinho
Eu e o cachorro
As estrelas e a lua

Minha tia chegou e perguntou o que eu estava fazendo
Então com naturalidade falei a verdade, queria dormir ali. Sentindo o vento no rosto

Ela? Riu!
Fiquei sem entender. Perguntei o motivo da risada
Então respondeu com um tom não agradável. Um tom alto e grave:

“– Sauara, estás precisando de tratamento, tu sempre com idéias fora do normal, igualzinha à mãe que tens. Estás muito perto da loucura. Queres sempre fazer coisas erradas, coisas diferentes. Idéias “estapafúrdias”. Idéias que a maioria das pessoas não tem. A sociedade tem convenções. Tu vê mais alguém fazer isto? Não vais conseguir emprego nenhum do jeito que estás encarando as coisas. Não vais ser alguém na vida. Tens que seguir os princípios estabelecidos pela maioria das pessoas. Então eu decido que não vais dormir na rua, até porque tem lagartixas e baratas! Baratas são bichos sujos que vão afetar tua saúde.”

- Ah! Não venha-me com esses assuntos de sujeira novamente, fazem 3 dias que não tomo banho. As baratas, são minhas amigas. Não fazem mal às pessoas nem ficam querendo impor regras sem sentido, como tu e metade de quem me cerca. E não vejo nenhum problema em dormir aqui.

É. Esse tipo de diálogo sempre faz com que eu sinta-me deslocada, mesmo que dentro de minha própria casa. É como não ter lugar para mim em algum lugar, não se encaixar em nada.
 

Retumbou a voz dentro de mim: "Estás muito perto da loucura!"
Eu? louca?
Loucos são os outros, não eu
Loucas são as pessoas que comem animais por luxo, sorriem quando querem chorar, servem pouca comida no prato porque foi convencionado que é uma maneira de ser educado. Louco é quem não faz o que tem vontade para zelar por uma boa reputação. E quanto às pessoas que só trabalham para acumular bens materiais e esquecem de viver? Parecer, parecer. Sempre parecer e não ser. 
E a pergunta que não cala: "Porque temos um certo lugar para dormir todos os dias em um planeta tão grande?"
Não faz sentido! E eu que sou a louca?

Mas ela? Riu! Riu de mim. Das minhas idéias e vontades
Por menor que pareça, isso me atingiu
Fez-me refletir profundamente
Pois um dos meus “problemas” é pensar demais
Aprofundar-me no sentido das coisas
Não só coisas complexas, mas as simples
Como o lugar que estamos com vontade de dormir
Seja no corredor, na sala ou na piscina
Se eu quiser por o colchão na cozinha?
Em cima da mesa?
Quem disse que não?

Acho todos esses conceitos uma bobagem, pois minha coragem ainda é bem maior.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Há quem diga

... que é um erro ter uma alma 
Sentir o coração gritar dentro de si e deixar ser controlado pelas emoções 
Há quem afirme ser só matéria 
Há quem diga que o homem não nasceu para os sentimentos 
Mas eu, que vim da intensidade, posso provar o contrário 
Talvez eu seja mesmo o contrário de tudo 
O avesso do mundo 
Seja eu, de outra maneira 

Há quem queira livrar-se da culpa que é sentir 
Há quem diga que eu sou a errada 
Há quem tenha teorias para explicar qualquer coisa 
E eu para explicar a mim e o nada

Deixe-me falar 
Que para mim isto é o importante 
Acordar e ver suas remelas grudadas nos olhos 
Sentir seu chulé 
Seu pênis roçando em mim
O suor que escorre da testa durante o orgasmo 

Deixe-me confessar 
Que gosto eu do seu hálito matinal 
Álcool, vômito, miojo e sexo oral

Deixe-me explicar
Que para mim isto é o importante
Não quero seu dinheiro
Quero o seu sorriso
Não quero seu carro
Quero que me carregue nas costas
Não quero que me pague um Mac-Lanche Feliz
Quero mendigar sobras de comidas nas lixeiras da cidade

É, somos como crianças
Somos crianças
Mais divertidos, mais felizes, mais livres

E se você quiser o final pode ser resumido em: 
“Um braço sobre o travesseiro, um abraço carente” 
Mas eu não quero, prefiro ser exatamente o oposto 
E continuar sonhando do que acreditar no fim...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Preciso deixar de beber

Não faltar às aulas, dormir cedo, respeitar os mais velhos
Tirar notas altas, desprezar os viciados
Crescer, ser Católico Apostólico Romano
Só assim poderei ser
Um cidadão respeitável

Preciso casar na igreja, adular o padre, pagar dízimo
Comprar um carro, fundar uma indústria, arrancar três árvores
Adquirir alguns preconceitos, aprender o cinismo, a violência e a hipocrisia
Tornar-se doutor, ingressar na sociedade
Bajular políticos, dar esmolas em público

Preciso de tudo isso
Porque preciso subir na vida
E honrar minha família
E tudo isso é mais importante
Bem mais importante e necessário
Do que pensar

Preciso sobre tudo
Ser católico
Para que me abram as portas do paraíso.

(Manuel Cavalheiro)

Vulgo pai da Anna Karenina Cavalheiro e tio do Cícero Cavalheiro.
Eu adoro essa família! Adoro tanto que as vezes sinto-me parte.